Monogamia cristã

 Hoje Ruth Almeida foi longe.

A Osasco. Entrevista de estágio.

No trem, em direção à escola para a entrevista, um vendedor ambulante. Vendia um super-ralador e descascador de legumes. Custava 10 reais. E Ruth - óbvio - não tinha, nem no PIX. Então ficou suspirando que queria um. Quanto mais ela fazia manha de que queria, mais ele vendia.

Na minha idealização de script, foi meio assim:

Primeiro veio um passageiro: "você quer? comprei este aqui, mas não sei para quem vou dar...."

E Ruth: "não posso aceitar presentes assim senhor. Vou à loja de utensílios domésticos, e certamente acharei lá."

"mas, você tem dinheiro?"

"por isso mesmo não devo aceitar do senhor, né?"

"Ah....você é evangélica?"

"Sim, sou."

"A paz de Deus então irmã."


"Amém. Acho que você deveria dar para alguém que gosta de cozinhar. Ou alguém que come somente porcarias como o i-food. Pede para o vendedor te explicar como corta cada legume, para você ensinar para a pessoa a quem vai dar o descascador."


Daí, o vendedor explodiu de vender, porque era realmente um produto inédito, e ele foi mostrando nos legumes que levava na bolsa, como era prático.


Quando Ruth desceu do trem, coincidentemente, o vendedor desceu atrás.


Daí, ele falou:

"psiu, tá aqui ó, leva um prá você. Você me ajudou a vender muito hoje."

"Não, não irmão. Você vê, eu estou desempregada, a caminho de uma entrevista de estágio. Com a ajuda e a força de Deus, vou conseguir alguma coisa, e comprar tudo o que preciso."


"Mas esse aqui é presente. Leva."

"Não, irmão. Olha, custa 10 reais, com 10 reais dá para fazer tanta coisa! Dá para comprar dois quilos de banana nanica e uma garrafa grande de água. Acredita nisso? Vende esse descascador para alguém, e compra as coisas que o senhor está trabalhando para comprar."


"Tudo bem então" - ele falou, e ficou parado bem na frente da irmã Ruth, olhando para ela.


"Tudo bem?"


"Não, é que você me chamou duas vezes de irmão, né? E lá dentro você cumprimentou e saudou o outro irmão, então você também deve ser crente. Porque assim, estão precisando de pessoas para trabalharem vendendo esses produtos. São produtos bons, posso indicar você, tem salário fixo, e pode folgar os dois fins de semana"


"Não irmão, não dá para mim"


"É por que você é crente? Porque assim, eu também já sou batizado, e não precisa se ocultar para fazer este trabalho (a isso, acredito que ele fez menção aos GAIP - gerador de alteração de identidade provisória)"


"Não é isso também. Vou até tentar explicar, o irmão não vai achar estranho?"


"Fala irmã"


"Bom, eu prestei serviço militar. Eu tinha a idade aceita; mulher é dispensada, mas eu prestei. Então, eu preciso estar disponível para todo e qualquer serviço de funcionalismo público, inclusive Agente Metroviário. Por isso, não posso aceitar"


"Bom, nesse caso, Deus abençoe você neste estágio. Porque estágio aceita, né?"


"Sim, eu sou livre para trabalhar. Caso necessite dispensa por algum motivo militar, meu comandante entra em contato com o supervisor do meu trabalho, e explica porque preciso me ausentar, e que necessito da vaga garantida quando voltar. A empresa é obrigada a aceitar, porque se trata de trabalho militar. Por isso, nas fichas de emprego, é proibido perguntar a mulheres se elas servem ao exército. É meio vitalício para as mulheres mesmo".


Daí ele fez aquela cara, de que o papo já estava longo demais, e que ele queria dizer à irmã que era comprometido, e que iria ter que contar essa conversa para a esposa quando chegasse em casa, então era melhor que ela despedisse a ele com "A paz de Deus".


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Foi aí que eu entendi algo.


Nas conversas entre um homem e uma mulher, quem despede é sempre a mulher.


Na natureza, sempre quando a fêmea dá condição, o homem se sente impelido a ir até o fim com ela, porque se ela estiver em dificuldades, ou correndo perigo, ele por varão, tem a obrigação de oferecer-lhe prole, para maior segurança. Assim são os passarinhos. E isso é bíblico, não há como mudar a tendência natural do ser humano.


Só que....


O povo de Deus não é assim.


Nós cuidamos cada um de nosso próprio cônjuge, evitamos relações extraconjugais mesmo sob a influência de um GAIP, acreditamos na cumplicidade da monogamia, e temos fé no subconsciente à distância que partilhamos com nossos cônjuges em pensamento e coração. Assim, garantimos um dia após o outro, a continuidade da vida. Um casal firmado nisso tem paz tão profunda na vida, que é capaz de viver sob quaisquer circunstância.


Por isso, ninguém jamais deve interferir na decisão de um casal em estar em monogamia. E este respeito deve partir daquele que está fora da relação, evitando tentar com ofertas de intimidade a cada um dos cônjuges, independente do estilo de vida conjugal que se acate aos dois - casamento civil, religioso, união estável ou "amigado".


VIDA GRUPAL


Quando um casal se abre para sexo poligâmico, não deve mais frequentar à igreja Evangélica, evitando propor convites de sexo grupal (swing) aos outros casais crentes, por causa da interatividade entre os lares de mesma comunidade Cristã.


Perdoem meus pecados, eu evitarei ambientes de cultura poligâmica, como locais de simpatia com público LGBTQIA+, apesar de me classificar tal qual "simpatizante".


Obs.: os nomes contidos neste texto foram modificados para manter o anonimato militar feminino, de acordo como pede a ética militar no Brasil (você só pode se declarar militar se estiver sob a farda. Todos os casos de legítima defesa por policiais civis são levados à averiguação e julgamento).


Deus vos guarde,


A paz de Deus.



Thaís Fernanda Ortiz de Moraes

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