A escravidão que perdura
O João, meu finado, me explicava sobre minha dor de escravidão:
"Thaís, senhor branco de engenho foi desalmado, mas isso porque não tinham dinheiro para pagar salário pelo trabalho do seu servidor. Estavam endividados com Portugal e com a Inglaterra, e tinham muita vergonha de precisar necessitar do trabalho dos negros que eram mais fortes do que eles, e de quem sentiam medo, precisando em sua lógica, ao mesmo tempo, escravizar. Daí, os horrores da escravidão. Justificativas não explicam as atitudes. Mas você precisa entender que eu não tenho nada a ver com isso."
Ele era branco. E muito muito lindo, choro de lembrar de seu jeito, rosto, cabelo e paladar.
E ele continuava, dizendo que os negros também eram escravizados por outros negros na África, que os vendiam porque eram seus prisioneiros.
Eu me rebelava, dizendo que se eram prisioneiros lá, era porque na África só havia negros na época, e por isso, os prisioneiros eram negros também.
Mas daí, eu lembro da nossa desunião enquanto povo da África Unite, nossa falta de Ubuntu, como por exemplo essa manhã, ao ligar para a TECNS escola de idiomas, e perguntar ao coordenador, se ele já havia preenchido a vaga de professor. Ele disse que sim, mas que precisava de mais professores. Pediu para que eu enviasse meu currículo em seu Whatsapp. Mas era mentira. Apesar de confirmar o número, o telefone não existia. A questão da desunião da raça é porque eu perguntei de onde era seu sotaque, e ele falou: Nigéria. Eu comentei que me sentia satisfeita quando um imigrante Africano ocupava posições mais qualificadas que as comumente ocupadas pelos imigrantes afro descendentes e africanos no geral. E disse que eu sei isso por ser afro descendente brasileira. Então ele falou que se eu já havia me candidatado no indeed e ele não havia respondido era porque eu não tinha sido escolhida. Mas antes de dizer isso, ele já havia me passado o número errado.
Provavelmente, ele possui a filosofia: "a escola é para brancos sou o coordenador africano porque sou nativo e meu inglês é melhor que dos outros brancos e negros brasileiros", por isso ele acredita que merece estar acima dos brasileiros. Isso também é um tipo de desunião, porque se ele quisesse realmente subir de carreira, além de escolinha de inglês, entenderia que precisaria sempre de contatos e amizades no país para viabilizar o career jet dele. E nós, precisaríamos dos contatos no país dele para fazer os nossos acordos de Trade com os parceiros em outras regiões. Isso é sustentabilidade comercial.
Essas coisas me fazem sentir muito mal, muito doente, a forma como a degradação da imagem do negro visto no outro empobrece nossa convivência e nossa colaboração para um plano de carreira mais justo entre nossa descendência.
Me deixa doente do coração, também, a forma como algumas pessoas não conseguem torcer por nós, compactuam e criticam toxicamente para nos prejudicar.
É muito triste.
sentimentos,
Thaís Fernanda Ortiz de Moraes
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